27.11.10

Eles

Ela acorda, senta na cama e se espreguiça olhando na janela.
Ele acorda, resmunga e continua deitado.

Ela prepara seu café, saboreia-o até a última gota enquanto faz carinho no seu gato.
Ele tem pressa, veste o terno e toma café na padaria ao lado.

Ela se veste calma, pensando em como será seu dia no trabalho.
Ele entra no carro, lamentando o trabalho.

Ela socializa no trabalho. É educada com quem merece e com quem não merece nem um terço disso.
Ele dá um sorriso forçado, um aperto de mãos falso.

Eles vão almoçar.
Eles se conhecem.

Ela vai embora pensando no quanto ele parecia cansado.
Ele vai embora pensando só, no quanto ela é bonita.

Ele liga para ela, convida para sair.
Ela aceita, aceita porque quer.
Ele convida por necessidade.

Eles se beijam.
Ela beija porque se sentiu confortável para isso.
Ele beija porque...  bem, porque era só isso mesmo que ele queria.

Eles fazem amor.
Ela faz porque o ama.
Ele faz por vontade.

Ela conta do seu dia.
Ela conta do que ela gosta.
Ela conta do que ela não gosta.
Ela escreve, lê.
Ela ri, faz piadas.
Ela tem humor negro, mas é doce.

Ele quer saber do dia dela.
Ele tenta fazer exatamente o que ela gosta.
Ele evita o que ela não gosta.
Ele lê o que ela escreve.
Ele ri, ele ouve as piadas.
Ele entende o seu humor negro, ele ama a sua doçura.

Eles se amam.
Ela vive para ele.
Ele pára de viver só por viver. Ele começa a viver por ela.

Eles não apenas vivem, eles se sentem vivos.
Eles têm amor.


Us - Regina Spektor